quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

TARJA PRETA

Esperando o torpor da inconsciência. Medindo o tamanho dos erros que, como sempre, são maiores que os acertos.
É vergonhoso admitir, mas por mais de uma vez a morte pareceu convidativa. Não é vaidade, é desespero. Seria uma desistência covarde, mas é uma alternativa, sempre será.
Nada precisa fazer sentido, a loucura torna-se uma certeza quase que concreta. De que vale a vida? Não sei o que fazer com ela, tudo parece em vão. Não quero acreditar que seja só o sofrimento, no entanto, a antítese é nula, onde quer que a procure não a encontro. Sombras, tudo são sombras, caricaturas, vazios, rascunhos.
O que é melhor para mim? Um gole de vida. Um suspiro profundo de paz.
Os membros vão perdendo a sensibilidade. O torpor se aproxima mansamente, embalando os pensamentos e fazendo com que a sensação de sono se torne inebriante e excitante.
O sono eterno pode ser assim. Quem negaria? Aproximando-se como um amigo, brando e pacífico, envolve os sentidos e nos leva apenas quando nos entregamos.
Confundo-me então, tudo parece não importar. Qualquer palavra dita desaparece no labirinto racional.
Almas vazias, mais vazias, que não se importam. Deveriam? Eu me importo? A vida é cada vez mais confusa, pensar sobre isso me enlouquece. Como não pensar? Deveria pensar menos, mas como uma porta que não mais se fecha, torna-se impossível fazer o caminho inverso e deixar apenas as coisas acontecerem. Sinto muito.
Removo os escombros em meu peito na busca incessante de encontrar alguma vida. O que mais encontro são corpos abandonados que perderam o sentido e ficaram perdidos em meio aos escombros. Alguma vida se acha, mas foge, aquela rotina antiga não vale mais a pena.
Os olhos pesam e, anestesiados, enxergam o mundo cinza e turvo. Com dificuldade levantam uma tonelada de cada vez na tentativa de permanecerem fiéis ao corpo que se entrega.
Entrego-me enfim, devolva minha vida.