quinta-feira, 4 de setembro de 2014

NO MEIO DA LAMA



Por todos os lados a lama existia.
Movia-se em câmera lenta na tentativa de sair do lugar. Nada acontecia. A viscosidade preenchia todo seu espaço, pois mantinha-a presa, inerte em um mundo assoberbado de números, datas, compromissos.
Um dia tudo parou, assim, de repente. 
Não tinha forças para romper com aquele mundo viscoso de lama em que se chafurdava a cada dia. Alguém fez isso por ela, o único que poderia fazer alguma coisa.
Quando ela parou, percebeu que gostava de ficar assim, a lama que cobria seus olhos, naquele momento, deixava de existir. Não era preciso muito, apenas respirar melhor já fazia com que seus pensamentos fossem mais claros. 
Agora que havia sentido o gostinho desse momento livre, nunca mais iria se afundar no mundo viscoso. Aos poucos a liberdade a preenche, calma e sorrateira. A lama não se extingue assim, com uma simples vontade. A lama aos poucos perde a força enquanto Ela emerge do mundo que criou.