domingo, 23 de janeiro de 2011

I- Essa Noite

A chuva caia insistentemente, e os trovões abrangiam toda a noite, como gritos do inferno a nos lembrar que a noite não é habitada por tolos. Os passos pesados encharcados pela aguá não eram ouvidos, as únicas presenças naquela rua eram do caminhante, e da grossa tempestade.
Movendo-se com rapidez ele parou diante da soleira do único sobrado habitado, a cidade estava praticamente vazia desde que as mortes haviam começado. A cada noite que findava-se novos corpos eram encontrados nos becos e nas marquises, impossíveis de serem reconhecidos devido a brutalidade dos ataques. O desespero e o pânico eram evidentes no semblante dos sobreviventes, e aqueles que permaneciam vivos, esgueiravam-se escondidos para não se transformarem nas próximas vitimas de uma desgraça coletiva.
Ele permanecia parado diante da maciça porta do sobrado, seu olhar fixo não demonstrava qualquer reação, impossível prever seu próximo movimento, o barulho da chuva caindo sobre seu grosso casaco de couro criava a impressão de que era uma estátua, imóvel, indiferente ao mundo que o cercava.
Uma luz acendeu-se, e seus olhos faiscaram com a surpresa. Passos podiam ser ouvidos aproximando-se da porta, passos mais leves, vindos de alguém que talvez tivesse notado uma presença do lado de fora.
Os passos cessaram, e um abafado suspiro pode ser escutado, seguido de passadas pesadas arrastando consigo alguma coisa que não queria ser arrastada. A luz se apagou. Uma raio rasgou a noite e iluminou a janela da frente, uma silhueta monstruosa pode ser vista, porem logo foi engolida pela escuridão.
Ele caminhou até a porta, e decidiu adentrar.

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