A superfície do lago assemelhava-se a um espelho. Refletindo algumas nuvens perdidas no céu e os pássaros, que fugidios rompiam o silêncio acomodando-se em seus ninhos no final da tarde. Sentada no deck próximo a cabana de sua família Suse acompanhava o desfecho do dia, olhar preso no horizonte, acompanhava a despedida do sol, que majestosamente desaparecia.
A água estaria fria? A curiosidade era instigante, e tocando levemente os pés na água arrepiou-se com a temperatura, estava fria. Ainda assim era prazeroso, e com um pouco mais de vontade ela arriscou sentir a água tocar-lhe até os joelhos. Arrepiou-se novamente, mas sentia-se bem, o frio da água equilibrava-se com o sangue quente em seu corpo.
Com as mãos apoiadas um pouco atrás do corpo, e chacoalhando os pés Suse inclinou a cabeça para trás, olhos fechados, um sorriso quase tímido marcou seu rosto. O sol já havia partido, era hora de voltar.
Suse tirava os pés da água, quando sentiu que algo passava perto de suas pernas dentro do lago. Assustou-se, e com um traço de desespero puxou as pernas para cima do deck. Seu coração acelerado, e os olhos assustados com certa distância procuravam o motivo de seu susto. Mas as águas já estavam escuras devido ao avançar do tempo, Suse não conseguiu enxergar nada.
Levantou-se no deck e olhou por um minuto a sua volta. Tentou respirar com mais calma, e racionalmente tentava encontrar alguma explicação, provavelmente um peixe, era o mais óbvio. Virando-se e indo em direção a casa ela sorriu novamente. As vozes que vinham da cabana acalmaram seus pensamentos, podia ouvir sua mãe conversando, a risada que vinha da cozinha e já via a luz acesa na varanda.
O som da água a assusta novamente, parecia que algo se agitava atrás dela. Olhando para a beirada do deck ela não enxerga nada. Pequenas ondulações ainda podiam ser vistas, era algo grande. O medo já era maior e decida a correr virou-se na direção oposta pronta para fugir. Quando deu os primeiros passos foi surpreendida, a agitação nas águas agora estava a sua frente, perto da saída do deck. Suse pensou em gritar, mas sua voz não saia, apenas lágrimas escapavam de seus olhos, desesperada ela tentava entender o que acontecia.
Parada onde estava, sentiu medo de continuar a caminhar. O que quer que estivesse dentro da água acompanhava suas decisões, antecipando-se a elas. O deck era estreito, Suse pensou que pudesse ser atacada por qualquer um dos lados. Precisava agir logo e sair dali. Deu um passo a frente, e mais um e com mais confiança avançou. Mas a água movimentou-se outra vez, bem debaixo de seus pés. E com um estrondo o deck se abriu a sua frente, jogando longe os pedaços de madeira que outrora serviam de apoio.
Suse gritou, mas o barulho vindo da casa abafava o som de desespero que rompia a noite. O deck começava a afundar. E afastando-se ela tentava se equilibrar na direção contrária. Mas o deck começou a se afastar, indo para o meio do lago, parecia estar sendo controlado. Ela gritava, chorava e agonizava imaginando o que estaria acontecendo. De onde estava ainda podia ver a cabana. Chamava pelos pais, ainda tinha esperança que pudessem ouvi-la.
O deck baixando começou a afundar. E seus gritos roucos, já com a garganta dolorida não eram tão altos. Os pés já estavam molhados e a água subindo já alcançava sua cintura, estava dentro da água. O frio já não era mais prazeroso, a temperatura baixa das águas do lago calaram-na de vez. Talvez ela conseguisse sair nadando. Em desespero Suse começou a mover-se, em pânico ela enxergava o barranco e com toda sua força buscava alcançar seu objetivo.
Ouviu a voz de sua mãe que lhe chamava, mas ela não tinha forças para responder. O barranco estava perto, mais alguns metros e estaria fora da água. Seu coração já tentava se acalmar, a voz de sua mãe parecia estar mais perto. Suspirando ela tocou com uma das mãos o barranco. Estava a salvo.
A água agitou-se novamente, e olhando para trás Suse tentou agarrar-se depressa em qualquer coisa que pudesse ajudá-la a sair da água. A onda avolumou-se como se algo submerso se aproximasse, e quando chegou perto dela diminuiu como se desaparecesse. Suse agarrou uma raiz próxima de onde estava e tentou puxar o corpo para fora do lago.
Algo a segurou pelos pés e seus olhos ainda tiveram tempo de ver a cabana antes de ser arrastada para as profundezas do lago.

Nossa, que medo!!! Ainda mais agora que estou sozinho no escuro. Muito bom o seu blog...
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