domingo, 3 de abril de 2011

I- PANDORA

O galho insistente batia com força na janela da cozinha, o vento o chacoalhava violentamente, e Eddy não mais se assustava com o barulho, já fazia tempo que ele queria cortar aquele galho, mas só se lembrava disso quando chovia e o vento forte fazia com que o galho o recordasse. Mais uma noite sozinho, já estava acostumado com a solidão, achava impossível naquela altura da vida encontrar alguém que o suportasse, pois a solidão faz isso com as pessoas, ficam exigentes, e reservadas, mesmo que encontrem alguém parecido, os defeitos aparecem, mais cedo ou mais tarde. Se não aparecem são inventados.
Uma batida surda interrompe seus pensamentos, não era a janela, agora era a porta da sala que com sua batida o chamava, alguém estava a porta.
Paul era seu irmão, estava ensopado na soleira da porta, e assim que ela foi aberta entrou rapidamente, trazendo consigo pacote bem grande.
- Nossa! Mas como está chovendo! Veja como estou molhado!- disse Paul.
Eddy, mal-humorado por ver o irmão molhando toda a sua sala lhe respondeu:
- Estou vendo! Péssimo dia para visitar as pessoas!- o tom de sua voz cínica não abalou Paul que sem dar importância continuou a falar.
- Bom, ainda bem que ela não se molhou muito!
Eddy não entendeu o comentário do irmão, e com cara de dúvida o encarou, esperando que explicasse o comentário, ou lhe dissesse que estava bêbado. Porém ele não estava bêbado, tinha uma "ela" naquela história. Paul levantou uma toalha que cobria uma cesta enorme, e dentro estava "ela".
- Mas que diabos é isso?- foi tudo o que Eddy conseguiu dizer.
- Ei, não precisa falar assim, é só uma criança! E veja como ela é linda! Parece um anjo!
- De quem você roubou essa criança?- perguntou-lhe o irmão.
- Por que você sempre acha que eu estou fazendo a coisa errada? Eu não roubei nada, ela apareceu na porta da metalúrgica.
- E o que você está fazendo com essa criança na chuva? Enlouqueceu? Leve-a para a polícia!
- Eu não posso, olhe prá ela, não tenho coragem de fazer isso, pense no que poderia acontecer se uma pessoa má ficasse com ela!- Paul colocou toda a emoção na voz, tentando fazer com que o irmão o compreendesse.
 Eddy debruçou-se sobre o cesto e olhou com mais cuidado para a criança. E pode entender do que o irmão estava falando.
A menina era linda, com olhos brilhantes de um azul jamais visto, pele clara e delicada, cabelos ruivos muito finos que lhe davam um ar de graciosidade, tinha no máximo um ano de idade pois já tinha expressões infantis precoces, parecia um anjo, uma escultura de Afrodite.
- Você entende do que estou falando agora?- perguntou Paul.
- É... ela é tão linda, mas...o que você vai fazer com ela?- perguntou Eddy saindo da hipnose causada pelos olhos da menina.
- Eu pensei em deixá-la com você.
- O QUÊ???? Você enlouqueceu? Eu não posso ficar com ela, não quero nenhuma criança na minha casa! Não quero um adulto dividindo espaço comigo, imagine uma criança! Nem pense nisso!- respondeu Eddy.
- Mas meu irmão, eu não tenho como cuidar dela, você sabe que eu moro na metalúrgica, e lá não é lugar para uma criança, é muito perigoso. Precisamos ajuda-la, até encontrarmos os pais dela!
- Você sempre me envolve nas suas confusões! Mas isso já é demais! Esqueça!
Um choro rompe a discussão, com os olhos lacrimejantes a menina chama a atenção, e fazendo um beicinho de tristeza olha para Eddy, como se adivinhasse os pensamentos dele, e faz com que o coração duro daquele homem vacile.
- Veja, ela gosta de você- diz Paul, tentando persuadir o irmão a mudar de ideia, porém aquela pequena menina já havia feito isso antes. Eddy cedeu.
- Tudo bem, eu concordo que a sua metalúrgica não é mesmo lugar para essa menina, mas escute bem, é por pouco tempo, só até encontrarmos os pais dela.
- Ótimo! Eu sabia que você me entenderia, precisamos cuidar dessa menininha, ela me deixou apaixonado com esse jeitinho, olhe para essa carinha!
- Pare com isso, ela não pode ficar, é só por um tempo. - as palavras de Eddy quebraram o clima amigável, era hora de ser racional.
Os dois debruçaram-se sobre a menina retirando-a de dentro do cesto e puderam olhar com mais atenção para ela. Colocaram-na sentada sobre a mesa, e puderam confirmar toda sua beleza. Não entendiam como alguém poderia ter abandonado uma menina tão linda. Ela era perfeita.
- Precisamos dar um nome prá ela. - disse Paul com cuidado olhando a reação do irmão.
Porém esse parecia mais uma vez hipnotizado pela criança, e respondeu acenando com a cabeça de forma positiva.
- Vamos chama-la de Pam. - disse Eddy olhando a menina com ternura.
- Tudo bem, é você mesmo quem vai cuidar dela! Afirmou Paul, mas o irmão não escutou a ironia, estava preso ao oceano nos olhos da menina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário