sábado, 23 de abril de 2011

IV- O SEGREDO DA CAIXA

À volta para casa foi confusa. Eddy ainda não conseguia entender como Pam havia entrado no quarto de Paul, e como ela havia fechado a porta como ele encontrara. Olhando para a menina pelo retrovisor enxergava apenas um pequeno anjo que bocejando já lhe dava sinais de que estava com sono. E olhando para o banco ao seu lado, Eddy contemplou a fantástica caixa. "O que será que essa caixa esconde? O que pode estar aí dentro?". Mas enquanto ainda se perguntava, lembrou das advertências do irmão, para que não a abrisse de maneira nenhuma, pois era muito perigoso. "Mas Paul nem sabe o que tem nessa caixa, como pode saber se é perigoso ou não?". E ainda questionando-se Eddy chegou a casa, carregando Pam já adormecida no colo, levou-a até a cama, beijando-lhe a testa, fechou a porta do quarto e deu uma última espiadela. Ela estava dormindo.
Voltando até o carro, pegou a caixa em cima do banco e levou-a para dentro. Acendendo a luz do pequeno escritório, colocou-a em sua mesa e sentou-se em uma poltrona um pouco afastada e ficou a observá-la. Seu brilho era incrível, parecia mais que dela irradiava luz, as figuras em alto relevo ganhavam vida, era como se as visse em movimento, e as pedras coloridas prendiam a atenção de qualquer um que a olhasse, era impossível não admirar a beleza daquele objeto.
Pequenos pés caminham pela casa em direção do escritório. Param e voltam a andar, como que se suspeitassem de sua presença. Chegam até a porta do escritório e silenciam. Eddy sentado na poltrona, de costas para a porta não percebe que não está mais sozinho. Pam o observa, porém não observa somente Eddy, seu olhar também se volta para a caixa na mesa. O olhar da garotinha não está mais repleto de luz, pelo contrário, de seus olhos o que se irradia não tem nome, um contraste muito grande entre a inocência e o desejo.
Eddy tem vontade de abrir a pequena caixa, mas não consegue. Fez uma promessa para o irmão, e teria que cumpri-la, mesmo que para isso lutasse contra a própria curiosidade. Um arrepio lhe percorre o corpo, teria esquecido a porta aberta? Olhando para trás percebe que havia deixado a porta aberta atrás de si, mas não estava ventando, de onde teria vindo aquele frio que percorreu seu corpo? Olhou ao seu redor e notou-se solitário com sua caixa magnífica. "E apenas uma olhadinha? Quem iria saber?" Seu pensamento foi interrompido, uma janela bateu alertando-o de seu devaneio. "Não, eu não posso fazer isso, prometi para Paul que não faria nada disso."
Ele sabia que era melhor esconder aquele objeto que o deixava tão confuso, precisava encontrar um lugar seguro para que ninguém caísse na tentação de abri-la, mesmo que para isso tivesse ele mesmo que esquecer essa insistente pergunta que martelava em sua cabeça, "O que tem aqui dentro?". Lembrou-se da cabana de ferramentas no fundo do quintal, não era o lugar para uma caixa como aquela, mas justamente por esse motivo era o lugar perfeito para escondê-la, e esquecê-la, se não estivesse mais diante de seus olhos, seria mais fácil continuar a vida sem distrações, cumprindo a promessa feita ao irmão.
A chuva fina ainda caia, e mesmo podendo guardá-la no dia seguinte, Eddy achou melhor fazer isso enquanto Pam estivesse dormindo, afinal ela havia visto a caixa, e desse modo ela não saberia onde ele escondera o precioso objeto.
A luz acesa na varanda da cozinha iluminava uma pequena trilha de pedras que levava até o fundo do quintal, diante de uma porta de madeira, e caminhando apressadamente para não se molhar muito Eddy carregava a caixa dourada enrolada em um tecido de veludo. Empurrou a porta com um dos ombros e rangendo ela se abriu, a bagunça de ferramentas fez quase com que tropeçasse, e passando por cima de martelos, chaves e parafusos chegou até o armário de ferro enferrujado. Era um armário muito antigo e gasto pelo tempo, sujo de graxa e com as prateleiras tortas, dentro dele alguns fios e arames ainda insistiam em permanecer pendurados nos pregos tortos esquecidos na parede do fundo.
Eddy colocou o embrulho em uma prateleira na parte de baixo, encostou-o bem no fundo e fechou como conseguiu a porta enferrujada. Sentiu certa tristeza, como se estivesse se separando de algo muito especial, pensou em desistir e olhar dentro da caixa antes de abandoná-la naquele lugar tão contrastante com sua beleza, mas conseguiu se controlar e dando um passo para trás saiu pela porta. Encostou-a com todo o cuidado e voltou pelo pequeno facho de luz que vinha da casa. Chegando à varanda chacoalhou os cabelos molhados e olhou mais uma vez na direção da cabana, e suspirando aliviado sentiu-se bem, pois havia vencido a tentação.
Entrando na cozinha, fechou a porta, e quando deu poucos passos perdeu a consciência. Pequenas mãos empurraram um vaso de flores que estava suspenso no andar superior, atingindo a cabeça de Eddy. Os passos velozes desceram as escadas, os antigos olhos meigos, olharam-no com prazer e confirmaram que ele estava desacordado. Uma risada infantil, cínica e hipócrita rompeu a noite chuvosa. Pam passou por cima do corpo estirado, pisando com força aquele que a acolhera. E abrindo a porta da cozinha, seguiu pelo mesmo caminho trilhado por Eddy poucos minutos atrás. A porta de madeira estava fechada, mas bastou que a garotinha fechasse os olhos para que o rangido fosse ouvido e o obstáculo não existisse mais. Pam ria, e parecia conversar com alguém, vozes e sombras a envolviam, como que se estivessem a brincar com ela, a menina se divertia, mas a cena era assustadora.
O ruído de unhas arranhando o ferro chamou a atenção da garotinha, e virando-se viu o velho armário enferrujado, que abrindo a porta revelava um tecido de veludo escondido em uma das prateleiras. Pam se aproximou a retirando o embrulho do velho armário descobriu o que estava escondido em baixo do tecido. A caixa.
Eddy sentiu a cabeça explodindo, e passando a mão por entre os cabelos, molhou os dedos em um liquido viscoso, e mesmo sem enxergar direito o que era, conhecia bem aquele cheiro, seu sangue estava no chão, e molhando seus cabelos.
- Pam! Pam!- ainda tonto e com dor, ele gritava, imaginava que alguém poderia ter machucado sua garotinha.
Segurando-se no corrimão, subiu as escadas em direção ao quarto da menina, e abrindo a porta não a encontrou. Olhando pela janela do quarto viu uma luz acesa no quintal, e a luz vinha de sua pequena cabana. Eddy se esqueceu da dor, precisava ir até a cabana, "o que está acontecendo?", era tudo o que conseguia pensar, e descendo as escadas aos tropeços saiu pela porta da cozinha gritando o nome da menina.
Os dedos pequenos e delicados de Pam percorriam a superfície da caixa, e cantarolando uma canção desconhecida ela procurava uma forma de abri-la. Seus dedos infantis acariciavam as figuras de deuses e o ferrolho da caixa estava quase se abrindo aos encantos da menina. Uma pequena trava se rompeu, e o delicioso barulho fez com que Pam mostrasse seu mais belo sorriso, o de satisfação.
O momento mais esperado estava diante de Pam, ela abriria a caixa, e seu conteúdo seria revelado. Com toda sua delicadeza ela levantou um pouco a tampa, e as sombras e vozes que a acompanhavam excitaram-se. Uma mistura de luzes e sons começou a escapar da pequena abertura, e a pequena cabana começou a inundar-se de imagens indescritíveis.
Eddy correu para a cabana, e suspreendeu-se com a visão que teve, terríveis figuras fantasmagóricas, gritos horrendos e calafrios em seu corpo fizeram-no parar. E Pam? Vencendo o medo entrou e se surpreende com o que viu.
Todo o ambiente estava impregnado de trevas, sofrimento e agonia, Eddy sentia na própria pele as impressões que vislumbrava, era triste e ao mesmo tempo assustador. Ele olhou ao redor sem compreender o que era tudo aquilo, e ver Pam sentada diante da caixa aberta, lhe confundia ainda mais. A garota escolheu seu melhor olhar de vítima e esperou pela reação de Eddy.
- Pam, o que você está fazendo? Feche essa caixa agora!
E sem pressa, a menina foi levantando a tampa e fechou a caixa.
- Agora sim Eddy, cada coisa está em seu lugar.
As sombras e os gritos espalharam-se, saindo por cada fenda e ganhando o mundo, sem limites, sem escolhas, invadindo cada pedaço do planeta, sujeitas apenas a vontade humana.

4 comentários:

  1. Oi.
    seguindo aqui

    http://iasmincruz.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. o texto é bom, bem escrito, prende a atenção!
    Abraço!

    ResponderExcluir
  3. Amei esse blog, adoro historias de terror. Sempre que der venho aqui fazer uma visita. Seguindo !!!

    ResponderExcluir
  4. que medoo... terror nao é muit minha historia predileta .. mas fiquei feliz por ter uma xara na historia^^

    ResponderExcluir